domingo, 13 de janeiro de 2008

CANÇÃO DA VELHICE CHEGANDO

A minha infância de medo
O meu silêncio de ferro
O indizível segredo
Com medo do próprio berro.

A minha infância cordeira
O matadouro secreto
Com sua espada certeira
Matando todo afeto.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007


AVE PALAVRA
Farei outra palavra. Uma que molhe amanhecendo
E na luz plena, azul desapareça. Farei outra palavra
Uma que não diga nada, que nada anoiteça
Mas que por si sobreviva e voe.
Farei outra palavra, indireta e sempre
Que porte uma faca, mas que não mate.
Apenas fira e tão fundamente corte
Que ao ouvi-la escura, insana e solta
O ouvinte despreze a própria sorte.
PADRE NOSSO
O padre, lá pelas tantas
com sua decrepitude
seus mil anos de sevícias
e devoção ao Senhor,
distribui humildemente
o corpo petrificado.
Tamanha gratuidade
move Deus do seu assento
que se dobra penitente
ao padre perdoador.
O PÁSSARO
O que diz este pássaro não entendo.
Descanto.
A duras penas abre as asas
ao batê-las
desvoa,
despássaro, despassarindo,
despassarinhando.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007